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Michele Petry

A Cuca (1924), de Tarsila do Amaral

Catálogo Tarsila Popular, Masp (2019)¹


Tarsila do Amaral, A Cuca², 1924. Óleo sobre tela, 73 x 100 cm. Musée de Grenoble.

Fonte: Site Tarsila do Amaral. ©Tarsila do Amaral Licenciamento e Empreendimentos Ltda.

O eterno retorno do recalcado, conceito que permite abordar três questões tarsilianas a partir de A Cuca. Óleo sobre tela, com grandes dimensões, produzida em 1924 e exposta em 1926 na Galerie Percier, em Paris, primeira individual da artista. Conserva a sua moldura original, assinada por Pierre Legrain.


Como em Urutu, apresenta o retrabalho dos traumas a partir das suas memórias: a cuca que vem pegar crianças é suavizada na obra por meio da cor amarela e da companhia de outros bichos infantis, podendo ter emergido de uma saudade, de uma distância, como a de sua filha Dulce a quem escreve carta contando sobre a feitura dessa obra.


Nela, também subsistem gestos e formas da artista que transcendem ao tempo porque vindas do seu interior, inconsciente. O traço vermelho, ao lado da planta no fundo da tela, talvez seja uma flor absurda precedendo a de Abaporu ou uma referência que escapa de outras obras suas como Estrada de Ferro Central do Brasil, Carnaval em Madureira, ambas de 1924, e A Negra, de 1923.


A repetição do traço, resquício da geometrização aprendida com Léger, também revela um desejo irrealizado com inspiração no mestre e o incentivo de Blaise Cendrars: a composição de cenografias para um balé baseada nos desenhos de bichos.

 

¹ Texto revisto a partir da publicação no Catálogo Tarsila Popular, organizado pelo Masp (2019).

² Nomenclatura conforme o Catálogo Raisonné Tarsila do Amaral (2008).

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