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Michele Petry

Abaporu (1928), de Tarsila do Amaral

Catálogo Tarsila Popular, Masp (2019


Tarsila do Amaral. Abaporu², 1928. Óleo sobre tela, 85 x 73 cm. Museo de Arte Latinoamericano de Buenos Aires.

Fonte: Site Tarsila do Amaral. ©Tarsila do Amaral Licenciamento e Empreendimentos Ltda.


Homem sentado sobre o solo ou Tarsila diante do espelho? Perguntaram-se Oswald de Andrade, seu segundo marido, e Tarsilinha do Amaral, sua sobrinha neta. No diálogo entre essas interpretações, surge a de Tarsila: do dicionário tupi-guarani, Abaporu, o homem que come, foi a sua escolha para marcar a criação do movimento antropofágico idealizado por Oswald e Bopp, em 1928.


Do ponto de vista do olho, Nu, outro título da obra, mulher sentada de lado esquerdo para o espelho, foi a sua solução estética para o problema do movimento primitivista que acontecia na Europa. Dedicada a esse tema de estudo desde o ano de 1921, com as obras Nu de Perfil e Nu Sentado, a série de esboços para Nu/Abaporu mostra a sua tentativa de realizar a linha curva, o traço livre para a elaboração da forma.


Com a orientação de María Blanchard no ateliê de Lhote, em 1923, Tarsila concretiza nessa pintura o que buscava em A Negra e o que os modernistas esperavam encontrar na inspiração de outras artes, culturas. A síntese da pulsão humana, o desejo de vida e memória do ser, Tarsila encontrou na observação de si; sinalizou o encontro consigo, senão com o sol ou a íris, com o cactos de flor absurda que remete à fazenda da infância no interior paulista; senão com o desenho de um homem ou de uma mulher, com a presença do humano, desnudo, diante de si.

 

¹ Texto revisto a partir da publicação no Catálogo Tarsila Popular, organizado pelo Masp (2019).

² Nomenclatura conforme o Catálogo Raisonné Tarsila do Amaral (2008).

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