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Michele Petry

Auto-retrato I (1924), de Tarsila do Amaral

Catálogo Tarsila Popular, Masp (2019)¹


Tarsila do Amaral. Auto-retrato I², 1924. Óleo sobre cartão sobre placa de madeira aglomerada, 41 x 37 cm. Acervo Artístico-Cultural dos Palácios do Governo do Estado de São Paulo.

Fonte: Site Tarsila do Amaral. ©Tarsila do Amaral Licenciamento e Empreendimentos Ltda.


Exposto pela primeira vez no Brasil há noventa e três anos, em 1929, na cidade do Rio de Janeiro, Auto-retrato I (1924), óleo sobre cartão sobre placa de madeira aglomerada, foi apresentado em Paris sob o título Retrato de artista [Portrait de l’artiste], em 1926. Desses mesmos anos datam outras duas versões da pintura, respectivamente, Auto-retrato II (1926), óleo sobre tela, e Auto-retrato III (1924), grafite e tinta ferrogálica sobre papel. Há, ainda, uma releitura feita por Pagu (1910-1962) (s.d.), e uma gravura autorizada para o álbum da Galeria Collectio (1971), em papelão, tecido e papel, que conservam os seus traços principais.


O cabelo emoldurando seu rosto ovalado, os lábios pintados de vermelho e as joias douradas adornando a sua figura lembram a Tarsila moderna do Auto-retrato com lenço vermelho (1921), Auto-retrato com vestido laranja (1921), ambos produzidos em Paris, e do Auto-retrato (Manteau rouge) (1923), todos óleo sobre tela. Neles, Tarsila parece ter eternizado a imagem que pretendia fazer de si enquanto retrato da artista mulher, conforme escreveu em uma crônica publicada no Diário de São Paulo: “para mim, um retrato é uma coisa tranquila, séria, definitiva, como um monumento que a gente contempla sem se cansar” (AMARAL, 1937 apud BRANDINI, 2008).


Mas Tarsila viveu até o ano de 1973 e, como outros temas recorrentes na sua obra, a face sintética sobrevive em outras imagens. Aparece, antes, em A negra (1923), e retorna em Operários (1933). São pinturas que mostram outras identidades sob uma espécie de máscara, a da Tarsila colonial. São da sua autoria também Auto-retrato com flor vermelha (1922), pastel sobre papel, Auto-retrato de cabelo curto (1923), grafite e crayon sobre papel, e Auto-retrato de corpo inteiro (1922), óleo sobre tela sobre cartão.


A obra Abaporu (1928), em que pese a própria narrativa de Tarsila do Amaral sobre essa obra na Revista do Salão de Maio de 1939, vem sendo considerada como um autorretrato enigmático seu (AMARAL, 2015). Esse é o caso, ainda, de Figura (O Passaporte) (1922), Retrato de modelo (1922) e Figura em azul (1923), apontadas como projeções da artista nas telas (CHIARELLI, 2021). Já A Espanhola ([1922]), é percebida por esse mesmo autor dessa forma, embora seja um retrato da sobrinha da artista. São nove obras, portanto, reconhecidas como autorretratos no Catálogo Raisonné Tarsila do Amaral (2008), e outras sendo vistas com novas interpretações. Auto-retrato I, por sua vez, continua sendo objeto de revisão, especialmente, quando colocada em relação com as demais obras citadas.


 

¹ Texto revisto e ampliado a partir da publicação no Catálogo Tarsila Popular, organizado pelo Masp (2019).

² Nomenclatura conforme o Catálogo Raisonné Tarsila do Amaral (2008).

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