Revista DasArtes (2017)
Meyer Filho.
Fotografia da exposição Meyer Filho: Arquivos Implacáveis, 2017.
De um lado, o artista por ele mesmo: suas obras, seus textos, sua assinatura, sua impressão digital. Ernesto Meyer Filho (1919-1991) se percebia primeiro como um artista e depois como um bancário. No discurso de si, constituía-se como desenhista, chargista, pintor, artista de Florianópolis, membro da Revista Sul, cidadão e funcionário que traduzia telegramas com palavras códigas: ABACV, SJEAG, SIZEZ, SOCYO, SNEPA, MABUI & MACAC.
De outro, o Meyer Filho interpretado: o louco, o galo, o “bancário travestido de artista”. Na exposição de seus “arquivos implacáveis”, a curadora Kamilla Nunes apresenta uma pequena parte dos seus 2560 desenhos sobre papel, recuperados por meio de um projeto de conservação e restauro. São traços elaborados a grafite, crayon, caneta esferográfica, nanquim e acrílica. Predominam neles o preto e o branco, embora a cor seja uma característica das suas composições. Sem hierarquização no espaço, as obras dialogam com recortes de jornais e excertos de manuscritos narrados. Peça emblemática, a cópia de um cheque assinado por ele com um desenho, despretensiosamente colocada sobre um suporte, instiga a pensá-la como um objeto de arte, objeto-síntese da questão: artista e bancário ou bancário como artista?
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