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  • Michele Petry

Millôr: obra gráfica (2019), exposição no Instituto Moreira Salles

Revista DasArtes (2019)


Millôr Fernandes. Desenho com autorretrato, 2001. Nanquim, lápis de cor aquarelável, crayon e colagem sobre papel, 21 x 29,6 cm.

Fonte: Acervo Millôr Fernandes /Instituto Moreira Salles


“Pois era cinza”, a antiga capital do país, a favela, o dia, os anos de chumbo, a arte gráfica de Millôr Fernandes (1923-2012). Grafite sobre papel, desenhos que receberiam cor de lápis, giz, tinta guache, nanquim, recortes e colagens. Esboços sobre páginas de revista, impressos, que receberiam os seus desenhos e textos. Notas a lápis, quase sempre nas margens do papel, indicam o desejo de feitura, curadoria da própria obra: “igual”, “flores em azul”, “fora-a-fora”, “A”, “B”, “C”, “3,5x23”, “quadro em tipografia”, “pelo amor de deus, conservar as côres!”, “45,6cm”, “sai fora!”, “atenção paginação, quadro em azul, texto deitado” são alguns comentários do artista para a edição de Pif-Paf, coluna e revista que concebeu; partes do seu processo criativo, da relação estabelecida entre desenho e lugar de exposição, como também faziam os artistas gráficos do Rio de Janeiro no final do século XIX e começo do XX.


Considerada uma arte menor no sentido rabelaisiano do termo, por que mobiliza o baixo, material e corporal, a arte gráfica de humor encontrava nas revistas e jornais uma forma de acessar o público. A exposição de arte gráfica de Millôr no IMS, junto a outras exposições, como as de fotografias de Irving Penn e Maureen Bisilliat, com a curadoria compartilhada entre Loredano, Julia Kovensky e Paulo Roberto Pires, coloca a importância tanto do artista quanto desse tipo de arte que tem como potência o traço, o gesto da mão que pensa. Millôr por Millôr, Pif-Paf, Brasil e À mão livre são seções da exposição que deixam o artista à mostra, no divã, em autorretratos de si, em retratos do outro, de um país “descoberto”, com as suas feridas expostas.


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