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Michele Petry

O Sapo (1928), de Tarsila do Amaral

Catálogo Tarsila Popular, Masp (2019)¹


Tarsila do Amaral. O Sapo², 1928. Óleo sobre tela, 50,5 x 60,5 cm. Museu de Arte Brasileira - FAAP.

Fonte: Site Tarsila do Amaral. ©Tarsila do Amaral Licenciamento e Empreendimentos Ltda.


Cururu, na beira do rio, emerge na obra de Tarsila, em 1928, a partir da pintura de Abóboda [La Voûte], óleo sobre tela, também intitulado como O Sapo. Figura central a partir da qual os outros elementos estão dispostos na obra, o arco, característico das pinturas do surrealista De Chirico, lembra o trabalho da técnica que a artista considerava inseparável do espírito.


Escrevendo sobre a produção de Segall, em 1936, Tarsila revela o seu próprio processo pictórico. Por meio da técnica, o trabalho da projeção da sombra na superfície, deixa vir à tona o seu mundo interior: a memória involuntária de um bicho da infância, das cantigas populares ou das imagens da fazenda. Colorido de verde, com cauda, difere-se daquele visto antes em A Cuca.


O símbolo da metamorfose dos anuros, a perda da cauda, indica a passagem da infância para a vida adulta, do ambiente aquático para o ambiente terrestre. Aqui, temos o anfíbio com as patas e a cauda, entre o azul das águas e os tons terrosos. Ao fundo, a paisagem dos morros tão frequente nos desenhos de Tarsila. Acima, os cactos, lembrando mais uma vez as cenas da infância. O sapo, jovem-adulto, poderia marcar a presença na tela de um momento de transição vivido, guardado, retrabalhado na memória da artista.

 

¹ Texto revisto a partir da publicação no Catálogo Tarsila Popular, organizado pelo Masp (2019).

² Nomenclatura conforme o Catálogo Raisonné Tarsila do Amaral (2008).

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