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Michele Petry

O Touro (1928), de Tarsila do Amaral

Catálogo Tarsila Popular, Masp (2019)¹


Tarsila do Amaral. O Touro², 1928. Óleo sobre tela, 50,5 x 61 cm. Museu de Arte Moderna da Bahia.

Fonte: Site Tarsila do Amaral. ©Tarsila do Amaral Licenciamento e Empreendimentos Ltda.


Antecipação do perigo, paralisia diante do Boi na Floresta, como sugerem As colunas [Les Colunnes], terceiro título da obra, elaborada para a segunda exposição individual da artista, em 1928, na cidade de Paris.


O conjunto de obras com bichos que Tarsila apresenta nesse período, desde a sua individual anterior, em 1926, traz a repetição, senão a recorrência dos eventos traumáticos da primeira infância que não cessam de emergir na vida adulta, representados pela zoofobia.


Indo além da reelaboração dos seus medos e angústias por meio de figuras infantis recoloridas, ressignificadas, como o boi da cara preta entre pilares estanques azuis, Tarsila parece decalcar em sua obra a presença do humano sombrio.


Uma comparação entre os títulos dessa pintura logo levanta a questão da diferença entre os animais, o boi e o touro. A castração como emblema do porvir imaginário, a morte ou a inibição dos sentidos, combina com a expectativa que pesa sobre o eu interior e exterior. A suspensão desse assombro, por outro lado, acontece na pintura quando Tarsila realiza o traço livre, contínuo, vindo do desenho firme e furioso, da linha pontiaguda na cabeça do touro.


Trata-se de um exercício de síntese da imagem conceitual, buscado também por Picasso, no ano de 1945, que faz da arte um pouco da brincadeira infantil capaz de seduzir os traumas do ser.

 

¹ Texto revisto a partir da publicação no Catálogo Tarsila Popular, organizado pelo Masp (2019).

² Nomenclatura conforme o Catálogo Raisonné Tarsila do Amaral (2008).

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