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Michele Petry

Urutu (1928), de Tarsila do Amaral

Catálogo Tarsila Popular, Masp (2019)¹


Tarsila do Amaral. Urutu², 1928. Óleo sobre tela, 60 x 72 cm. Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.

Fonte: Site Tarsila do Amaral


Serpente venenosa com dois metros de comprimento, encontrada em algumas regiões do Brasil. Esse seria o significado do nome atribuído à obra de Tarsila do Amaral, óleo sobre tela, elaborada no ano de 1928 e exposta pela primeira vez na Galeria Percier, em Paris. Segunda exposição individual da artista, composta por uma série de obras nas quais os bichos aparecem como temas centrais.


Em Urutu, diz-se que a relação mais forte é com o poema de Raul Bopp, Cobra Norato, de 1931. Faria uma alusão ao mito da cobra grande, que amedronta os ribeirinhos da Amazônia. Mas em Tarsila, a serpente marrom do sudeste aparece na cor de rosa, uma de suas preferidas. Ao fazer isso, a artista ressignifica a cobra, trazendo-a para o seu mundo interior.


O Ovo [L'Oeuf] é o outro título da pintura que se assemelha à obra de René Magritte, As afinidades eletivas [Les affinités électives], de 1933. Sabemos que nos anos de 1920 Tarsila transitou muito por São Paulo e Paris, convivendo com artistas consagrados da vanguarda europeia.


Perseguia de forma incessante o seu objeto de interesse artístico, o retrabalho dos traumas a partir das memórias infantis. Remetendo à data de 1º de setembro de 1886, com lugar na cidade de Capivari, a memória da cobra lendária, urutu, aparece como retrabalho do medo na saída do útero, o ovo, trauma do seu nascimento.

 

¹ Texto revisto a partir da publicação no Catálogo Tarsila Popular, organizado pelo Masp (2019).

² Nomenclatura conforme o Catálogo Raisonné Tarsila do Amaral (2008).




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